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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Da Série: O Poema que Faltava

1967 - JOSÉ & OUTROS - Carlos Drummond de Andrade


Composição 


E é sempre a chuva 
nos desertos sem guarda-chuva, 
algo que escorre, peixe dúbio, 
a cicatriz, percebe-se, no muro nu. 


E são dissolvidos fragmentos de estuque 
e o pó das demolições de tudo 
que atravanca o disforme país futuro. 
Débil, nas ramas, o socorro do imbu. 
Pinga, no desarvorado campo nu. 


Onde vivemos é água. O sono, úmido, 
em urnas desoladas. Já se entornam, 
fungidas, na corrente, as coisas caras 
que eram pura delícia, hoje carvão. 


O mais é barro, sem esperança de escultura.

Bafo L.F. 

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